"Basta-te a minha graça!"
(2 Cor 12,9)
Neste último domingo (05), a Paróquia de Nazareno
organizou celebrações em honra à São Jorge, tendo em vista meditar sobre as
dores e mazelas do mundo, associando-as com o simbolismo de sua Santa Imagem.
Desse modo, realizou-se às 11h, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário,
uma Missa Solene que contou com a participação de cavaleiros e amazonas
dispostos ao longo de toda extensão da praça, concentrados nos ensinamentos do
reverendíssmo Pe. Sílvio e no significado cristão que explicava suas montarias,
seus cavalos e sua reunião em torno do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
A céu aberto, as canções
entoadas pareciam alcançar mais pessoas e mais corações, cada leitura
evaporava-se amorosamente em olhos e ouvidos atentos à Memória de São Jorge, à
bênção da Virgem do Rosário e da Santíssima Trindade. Em sua homilia, Pe. Sílvio
destacou a importância do profeta Ezequiel e dos apóstolos São Paulo e São
Marcos enquanto pregadores de uma Fé convicta e calcada em gestos de amor ao
próximo, muito mais do que nas palavras vazias e interessadas dos maus pastores
de sua época e também dos dias atuais.
A História progrediu para
um novo estágio de civilização, embora suas estruturas de controle e
manipulação das massas continuem a ser as mesmas ou pelo menos em função dos
mesmos interesses materiais e mundanos. Entretanto, Jesus é o Bom Pastor e fala
aos pobres para apontar-lhes a riqueza universal, o limite que une em Deus os
patrões e os trabalhadores, a elite e o povo. Como forma de comprovar suas
palavras bendizentes, Pe. Sílvio recorre à passagem em que Jesus orienta o povo
a segui-lo e o primeiro passo é que nos desfaçamos de todos os nossos bens e
coloquemos a nossa vida em um plano mais elevado do que as condições humanas e
pecadoras, aquelas que nos afastam da experiência de graça e perfeição
concedida pela obediência aos desígnios do Senhor e total desapego ao que não é
fruto de sua imaculada misericórdia.
Na leitura do Livro de Ezequiel, o Senhor pede
ao profeta que espalhe pelo mundo a boa nova do seu Amor, mesmo que muitas
nações rebeldes não ouçam suas palavras e nem façam testemunho de sua Grandeza.
Para perserverar na Fé e na busca incessante pela Santidade, os cristãos
precisam compreender que o segredo de amar a Deus é simplesmente aceitar e
reconhecer o Ágape Divino. Basta sentir-se amado para amar sinceramente e com
todo fervor. Conforme os dizeres de Pe. Sílvio, "o Senhor não desiste dos
seus Filhos de cabeça dura e coração de pedra", Ele fica à espreita por
uma brecha, à espera de uma oportunidade para entrar e tornar tudo novo segundo
o Teu Santo Espírito.
Na Segunda Carta de São
Paulo aos Coríntios, o Santo Apóstolo relata a perseguição que sofreu de
Satanás, do anjo caído que desceu dos céus para habitar as profundezas do mal e
da cegueira causada pela falta de Luz que somente o Senhor pode resplandecer.
Nesse confronto com as forças, tentações e artimanhas do mal, São Paulo insurge
como um autêntico Servo de Deus e por isso não é desamparado, mantendo-se firme
em seu propósito de evangelização e recebendo a resposta que o Senhor sempre
nos dá quando nos entregamos ao seu Amor: "Basta-te a minha graça, pois o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Cor 12,9). Desse modo, aprendemos
com São Paulo que a Graça do Senhor é o bastante para vivermos e o mundo
inteiro sem ela não significa absolutamente nada.
Na realidade do presente
século XXI, os valores são invertidos e contrapostos à lógica dessa resposta
que o Senhor deu a São Paulo e pretende dar a cada um de nós. Pe. Sílvio
ressalta que vivemos lamentavelmente em uma sociedade que prega a lei do mais
forte e portanto celebra alguns para oprimir populações. Atualmente, o poder
vem de cima para baixo e o mapa que o Senhor nos fornece para o caminho da
Salvação sugere a direção contrária: somos fortes quando dominamos nossas
fraquezas e assim nos tornamos capazes de respeitar e ajudar os nossos irmãos
em suas limitações e dificuldades. O poder não deve existir senão como
ferramenta de partilha e humanização, não podemos nos acostumar a entender
poderosos como superiores, todas as coisas partem do Senhor e precisam
obrigatoriamente fundamentar-se Nele e para Ele. Basta-nos a Tua Graça!
No Evangelho de São
Marcos, Pe. Sílvio recordou a trajetória humilde e missionária empreendida por
Jesus no tempo em que o verbo se fez carne e habitou a humanidade. Como
carpinteiro que pertencia às classes inferiores na pirâmide social da época,
Jesus ensinava aos sábados na sinagoga e suas palavras carregavam tamanha
sabedoria que muitos se admiravam e se perguntavam como era possível alguém de
origem tão simples e de tão nobres ensinamentos.
Jesus se entristecia com
os questionamentos sobre os milagres que realizava e as pregações que fazia em
nome de Deus Pai, uma vez que essas dúvidas demonstravam a falta de Fé do povo
de sua própria cidade e também a incerteza típica daqueles que não se guardam
na Verdade da Palavra e acabam por relativizar e banalizar o Amor de Deus, o
qual é para sempre incomparável e absoluto. Nada há que possa acrescentar neste
princípio: O Senhor é. E ponto final. Somente a Fé pode iluminar a razão e
fazer compreender uma frase aparentemente incompleta. Na verdade, ela é plena e
tudo o que alcança plenitude precisa ser louvado. Por isso, louvemos ao Senhor.
Pois o Senhor é!
"No tempo de Jesus, o sábado era sagrado por lei e
não por bondade. Mas Jesus é bom, Jesus quebra a Lei." Tal foi o
pronunciamento de Pe. Sílvio a respeito da passagem referida acima. Jesus era
inspirado pelo Amor de Deus, independentemente das regras e normas impostas à
sociedade, ele quebra a lei porque liberta os homens de sua obediência aos
outros homens para que possam obedecer somente aos digníssimos mandamentos do
Senhor. A Lei deixa de ser os impostos para ser pura e simplesmente o gesto de
conforto e carinho dado sem retorno a um irmão necessitado.
Em contrapartida, Pe. Sílvio alertou os cristãos reunidos
a respeito da própria Imagem de São Jorge, a qual ilustra uma espécie de
serpente ou dragão sendo combatida pela espada em cujo metal brilha a presença
e a disposição do Senhor em nos livrar de qualquer adversidade. Nesse sentido,
somos convidados a forjar nossa espada no aço imperecível de Deus, para que
assim possamos vencer toda peste, toda guerra e todo espinho que nos quiser
atravessar a carne.
Na etapa de encerramento do seu discurso amável e
benevolente, Pe. Sílvio rogou a São Jorge e reuniu os fiéis presentes em uma
sincera e devota oração por todos os proprietários rurais de nosso município,
os quais possibilitam que tenhamos em nossa mesa os diversos frutos da terra
necessários à nossa sobrevivência. Com base nisso, o reverendíssimo sacerdote
ainda ampliou suas intenções para todo o povo de Deus que reside em Nazareno.
Devidamente nutridos com o Pão da Vida e o
Sangue da Salvação, todos se despediram abençoados pela honrosa celebração de
Pe. Sílvio. Logo após, cavaleiros e amazonas cavalgaram em procissão pelas principais
ruas da cidade até o Santuário Nossa Senhora de Nazaré, manifestação pública da
fé do povo de Deus.
Seguindo o a imagem do
santo cavaleiro, cavalos e homens, pediam durante o cortejo, colocando-se em
preces, orações e agradecimentos. Momento ímpar de fé e louvor a Deus, fonte de
santidade e benevolência.
Após a chegada no
Santuário, Pe. Sílvio aspergiu todos os cavaleiros e amazonas. Em seguida aconteceu
um sorteio de brindes, organizado pelos festeiros com ajuda de doadores.
Logo após, foi realizado
um animado leilão de três cavalos. Gratidão, reconhecimento e orações a todos
os colaboradores.
E assim todos renderam graças a São Jorge:
corpos montados em cavalos, corações a galope da Fé.
Matéria - Guilherme Augusto
Fotos - Luan Braz, Marcos Soares e Waldecy Junior