terça-feira, 7 de julho de 2015

São Jorge: espada que fere o pecado em nós

"Basta-te a minha graça!" (2 Cor 12,9)

            Neste último domingo (05), a Paróquia de Nazareno organizou celebrações em honra à São Jorge, tendo em vista meditar sobre as dores e mazelas do mundo, associando-as com o simbolismo de sua Santa Imagem. Desse modo, realizou-se às 11h, em frente à Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma Missa Solene que contou com a participação de cavaleiros e amazonas dispostos ao longo de toda extensão da praça, concentrados nos ensinamentos do reverendíssmo Pe. Sílvio e no significado cristão que explicava suas montarias, seus cavalos e sua reunião em torno do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.


A céu aberto, as canções entoadas pareciam alcançar mais pessoas e mais corações, cada leitura evaporava-se amorosamente em olhos e ouvidos atentos à Memória de São Jorge, à bênção da Virgem do Rosário e da Santíssima Trindade. Em sua homilia, Pe. Sílvio destacou a importância do profeta Ezequiel e dos apóstolos São Paulo e São Marcos enquanto pregadores de uma Fé convicta e calcada em gestos de amor ao próximo, muito mais do que nas palavras vazias e interessadas dos maus pastores de sua época e também dos dias atuais. 


A História progrediu para um novo estágio de civilização, embora suas estruturas de controle e manipulação das massas continuem a ser as mesmas ou pelo menos em função dos mesmos interesses materiais e mundanos. Entretanto, Jesus é o Bom Pastor e fala aos pobres para apontar-lhes a riqueza universal, o limite que une em Deus os patrões e os trabalhadores, a elite e o povo. Como forma de comprovar suas palavras bendizentes, Pe. Sílvio recorre à passagem em que Jesus orienta o povo a segui-lo e o primeiro passo é que nos desfaçamos de todos os nossos bens e coloquemos a nossa vida em um plano mais elevado do que as condições humanas e pecadoras, aquelas que nos afastam da experiência de graça e perfeição concedida pela obediência aos desígnios do Senhor e total desapego ao que não é fruto de sua imaculada misericórdia.

Na leitura do Livro de Ezequiel, o Senhor pede ao profeta que espalhe pelo mundo a boa nova do seu Amor, mesmo que muitas nações rebeldes não ouçam suas palavras e nem façam testemunho de sua Grandeza. Para perserverar na Fé e na busca incessante pela Santidade, os cristãos precisam compreender que o segredo de amar a Deus é simplesmente aceitar e reconhecer o Ágape Divino. Basta sentir-se amado para amar sinceramente e com todo fervor. Conforme os dizeres de Pe. Sílvio, "o Senhor não desiste dos seus Filhos de cabeça dura e coração de pedra", Ele fica à espreita por uma brecha, à espera de uma oportunidade para entrar e tornar tudo novo segundo o Teu Santo Espírito.


Na Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios, o Santo Apóstolo relata a perseguição que sofreu de Satanás, do anjo caído que desceu dos céus para habitar as profundezas do mal e da cegueira causada pela falta de Luz que somente o Senhor pode resplandecer. Nesse confronto com as forças, tentações e artimanhas do mal, São Paulo insurge como um autêntico Servo de Deus e por isso não é desamparado, mantendo-se firme em seu propósito de evangelização e recebendo a resposta que o Senhor sempre nos dá quando nos entregamos ao seu Amor: "Basta-te a minha graça, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Cor 12,9). Desse modo, aprendemos com São Paulo que a Graça do Senhor é o bastante para vivermos e o mundo inteiro sem ela não significa absolutamente nada. 

Na realidade do presente século XXI, os valores são invertidos e contrapostos à lógica dessa resposta que o Senhor deu a São Paulo e pretende dar a cada um de nós. Pe. Sílvio ressalta que vivemos lamentavelmente em uma sociedade que prega a lei do mais forte e portanto celebra alguns para oprimir populações. Atualmente, o poder vem de cima para baixo e o mapa que o Senhor nos fornece para o caminho da Salvação sugere a direção contrária: somos fortes quando dominamos nossas fraquezas e assim nos tornamos capazes de respeitar e ajudar os nossos irmãos em suas limitações e dificuldades. O poder não deve existir senão como ferramenta de partilha e humanização, não podemos nos acostumar a entender poderosos como superiores, todas as coisas partem do Senhor e precisam obrigatoriamente fundamentar-se Nele e para Ele. Basta-nos a Tua Graça!

No Evangelho de São Marcos, Pe. Sílvio recordou a trajetória humilde e missionária empreendida por Jesus no tempo em que o verbo se fez carne e habitou a humanidade. Como carpinteiro que pertencia às classes inferiores na pirâmide social da época, Jesus ensinava aos sábados na sinagoga e suas palavras carregavam tamanha sabedoria que muitos se admiravam e se perguntavam como era possível alguém de origem tão simples e de tão nobres ensinamentos.


Jesus se entristecia com os questionamentos sobre os milagres que realizava e as pregações que fazia em nome de Deus Pai, uma vez que essas dúvidas demonstravam a falta de Fé do povo de sua própria cidade e também a incerteza típica daqueles que não se guardam na Verdade da Palavra e acabam por relativizar e banalizar o Amor de Deus, o qual é para sempre incomparável e absoluto. Nada há que possa acrescentar neste princípio: O Senhor é. E ponto final. Somente a Fé pode iluminar a razão e fazer compreender uma frase aparentemente incompleta. Na verdade, ela é plena e tudo o que alcança plenitude precisa ser louvado. Por isso, louvemos ao Senhor. Pois o Senhor é!


            "No tempo de Jesus, o sábado era sagrado por lei e não por bondade. Mas Jesus é bom, Jesus quebra a Lei." Tal foi o pronunciamento de Pe. Sílvio a respeito da passagem referida acima. Jesus era inspirado pelo Amor de Deus, independentemente das regras e normas impostas à sociedade, ele quebra a lei porque liberta os homens de sua obediência aos outros homens para que possam obedecer somente aos digníssimos mandamentos do Senhor. A Lei deixa de ser os impostos para ser pura e simplesmente o gesto de conforto e carinho dado sem retorno a um irmão necessitado.


            Em contrapartida, Pe. Sílvio alertou os cristãos reunidos a respeito da própria Imagem de São Jorge, a qual ilustra uma espécie de serpente ou dragão sendo combatida pela espada em cujo metal brilha a presença e a disposição do Senhor em nos livrar de qualquer adversidade. Nesse sentido, somos convidados a forjar nossa espada no aço imperecível de Deus, para que assim possamos vencer toda peste, toda guerra e todo espinho que nos quiser atravessar a carne.

            Na etapa de encerramento do seu discurso amável e benevolente, Pe. Sílvio rogou a São Jorge e reuniu os fiéis presentes em uma sincera e devota oração por todos os proprietários rurais de nosso município, os quais possibilitam que tenhamos em nossa mesa os diversos frutos da terra necessários à nossa sobrevivência. Com base nisso, o reverendíssimo sacerdote ainda ampliou suas intenções para todo o povo de Deus que reside em Nazareno.


Devidamente nutridos com o Pão da Vida e o Sangue da Salvação, todos se despediram abençoados pela honrosa celebração de Pe. Sílvio. Logo após, cavaleiros e amazonas cavalgaram em procissão pelas principais ruas da cidade até o Santuário Nossa Senhora de Nazaré, manifestação pública da fé do povo de Deus.




Seguindo o a imagem do santo cavaleiro, cavalos e homens, pediam durante o cortejo, colocando-se em preces, orações e agradecimentos. Momento ímpar de fé e louvor a Deus, fonte de santidade e benevolência. 



Após a chegada no Santuário, Pe. Sílvio aspergiu todos os cavaleiros e amazonas. Em seguida aconteceu um sorteio de brindes, organizado pelos festeiros com ajuda de doadores.




Logo após, foi realizado um animado leilão de três cavalos. Gratidão, reconhecimento e orações a todos os colaboradores. 




 E assim todos renderam graças a São Jorge: corpos montados em cavalos, corações a galope da Fé.


Matéria - Guilherme Augusto
Fotos - Luan Braz, Marcos Soares e Waldecy Junior

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