Fiéis manifestam o seu amor à Mãe da diversidade e dos marginalizados: a Senhora
do Rosário
União, diversidade, devoção e muita fé constituíram o ápice
da Festa em honra à Nossa Senhora do Rosário, padroeira da Comunidade do
Rosário em Nazareno, São João Batista, grande anunciador do Reino de Deus e
Santa Efigênia. Assim, este domingo, 22 de junho, foi intenso na Paróquia Nossa
Senhora de Nazaré, a qual pôde presenciar nas festividades o amor dos fiéis
manifestado através dos cantos e danças de congos e demais grupos
afro-descendestes.
Celebrações Matutinas
O amanhecer na Comunidade do Rosário foi alegrado pela Alvorada
festiva que se iniciou às 06h, anunciando que o dia nascente seria especial, em
louvor à Virgem Maria e aos santos que guardam os moradores do Bairro.
Às 8h, aconteceu a primeira celebração eucarística
dominical, sempre lembrando das bem-aventuranças da Senhora do Rosário, aquela
que conduz ao Senhor Jesus.
A Santa Missa Solene foi realizada às 11h, abrilhantada pela
Orquestra de Nazareth a qual levou os fiéis a meditarem com os cantos de
solenidades em latim.
Cortejo Imperial de
Reis e Rainhas e Procissão
Ternos, congadas e grupos afro-descentes de diversas cidades
vizinhas como Itutinga e São João Del Rei se fizeram presentes durante todo o
dia. A animação do ritmo contagiante causado pelos tambores, triângulos,
reco-recos e demais instrumentos louvava a Deus e resgatava a rica cultura das
origens brasileiras e africanas. Os grupos cantaram para a passagem do
tradicional Cortejo Imperial dos Reis e Rainhas da festa.
Em seguida, às 17h, deu-se início à Procissão, participada
por grande número de fiéis. As ruas por onde passaram os Santos João Batista, Efigênia
e Nossa Senhora do Rosário foram decoradas com bandeirinhas e balões, mostrando
o entusiasmo e a fé dos moradores.
Durante o trajeto a musicalidade foi alternada entre a Banda
Municipal e as congadas, fato concreto da diversidade também evidenciada no
povo de Deus. Ao retornar para o Salão, ao lado da Igreja de Nossa Senhora do
Rosário (em reforma), as imagens foram recebidas com júbilo, vivas e aclamações.
Os presentes foram convidados pelo pároco, Padre Rondineli a estenderem seus
terços à imagem de Nossa Senhora do Rosário, sinal de reconhecimento da entrega
da Mãe de Deus e de súplica por seu amparo.
Santa Missa de Encerramento
Após o acolhimento das imagens e a incensação iniciou-se a
Missa que marcou o final da festa do Rosário. Com o salão repleto todos
participaram da Ceia do Senhor em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia.
As palavras lançadas pelo Padre Rondineli Cristino em sua
homilia tocaram os corações quebrantados atingindo os mais necessitados.
Iniciou com o seguinte questionamento: Por que amamos tanto
Maria? Por que esse grande carinho para com Nossa Senhora? Maria Santíssima
concedeu o filho de Deus, redentor da humanidade, elo entre o pai celestial no
reino dos céus e os seus filhos que almejam a salvação.
Louvamos a Maria porque ela é a corredentora da humanidade,
o amparo de Jesus. A Virgem do Rosário é exemplo de amor, coragem e fé, afinal
é a escrava do Senhor, aquela que sofreu as dores pelo evangelho e por seu
filho.
Dessa forma, o primeiro Sacrário vivo revela em sua vida Jesus
Cristo. Aquele que através da Eucaristia nos traz a Salvação, Deus conosco,
Emanuel. A maior prova de que o divino se faz presente e não nos abandona ou se
distancia: Deus de presença em momentos bons e ruins. Especialmente nos
momentos difíceis e nas provações sua presença se faz intensa e especial. Assim
é relatado na leitura do livro do Profeta Jeremias a qual mostra que Deus
estava com ele e o capacitava nas mais difíceis provações.
O Senhor quer tocar no coração de cada um de nós, fazendo-nos
renovados na Eucaristia. Jesus, no evangelho deste 12º domingo do Tempo Comum,
dirige sua palavra: Não tenhais medo!
Quantas coisas nos angustiam e nos amedronta. Diferentemente
da Igreja Primitiva acontece um novo martírio realizado próprios cristãos. Até
mesmo dentro da Igreja, em pastorais e movimentos, pessoas que dificultam,
perseguem, colocam empecilho. Ou o martírio na família com imposições pelos
entes que não permitem a participação dos familiares na Igreja.
Não tenhais medo, pois aquele que não se envergonhar de me
testemunhar diante dos homens eu também não terei vergonha de testemunha-los
diante de meu Pai.
Ao final da celebração Padre Rondineli agradeceu a todos os
colaboradores e benfeitores que contribuíram para a realização destes quatro
dias de festa, um período especial de evangelização e proclamação pública de
fé.
Que a Virgem do Rosário, formosa e mimosa, rogue a Deus para
que sejamos destemidos e corajosos seguindo seu exemplo, focados no caminho
deixado por Jesus, rumo ao reino celeste.
Entrevistas
Qual é sua perspectiva e o que a senhora está achando da
festa de Nossa Senhora do Rosário?
“Muito gostosa, a gente foi recebida com muito carinho, acho
que isso é o mais importante. E tudo que nos foi transmitido desde a celebração
das 11h, muito bonita. A recepção do pessoal do almoço foi maravilhosa. Nós
vamos voltar outras vezes se Deus quiser! ”
Qual é a representação que a senhora como Rainha tem no
grupo e qual é o simbolismo que isso envolve?
“Esta tradição vem dos africanos. Na África tinham os negros
pobres e também aqueles que tinham um poder aquisitivo maior. Então Rei e
Rainha tinham as pessoas a seu serviço. Esta é mais ou menos a cultura do
congado. Ainda estou estudando com auxílio da Universidade Federal de São João
Del Rei, eles passam muito sobre a cultura africana para o nosso grupo. ”
Elzi das Graças - Rainha há dois anos do Grupo de Congado São Sebastião e São Benedito de Matosinhos - SJDR
Por que você decidiu ingressar no grupo?
"Fiz uma promessa a Nossa senhora do Rosário, tomava muito
medicamento. Então pela graça alcançada ingressei no grupo, hoje eu não bebo
mais remédios."
Hudson – Rei do Grupo de Congado São Sebastião e São Benedito de Matosinhos - SJDR
Como é o trabalho do grupo e qual sentido ele assume?
"Bom, o grupo já tem 20 anos de existência e nunca foi
pastoral pra que a gente possa agregar todo mundo, não tenho credo religioso,
apesar da maioria ser católica. A nossa iniciativa foi pra resgatar a nossa
identidade negra, foi pra isso. Então, buscamos o valor da nossa história, de
cada família, buscar a autoestima, especialmente das meninas jovens e a gente
estudar e conhecer. Quem somos nós? De onde viemos e o que queremos? A evolução
de tudo que aconteceu dentro desses 20 anos, a inserção de jovens que foram pra
faculdade, inserção de jovens pobres nossos que hoje são enfermeiros,
psicólogos. Temos muita gente que pegou um caminho. O grupo tem um trabalho
social”
Vicentina Neves – Grupo de Enculturação Afrodescendente Raízes
da Terra - SJDR
Há quanto tempo participa como Rainha na Festa e como é esta
experiência?
“Sou Rainha Perpétua desde os 40 anos, hoje tenho 73.
Participo porque Nossa Senhora me curou de uma Doença incurável. Pra mim vesti
de Rainha representa muita coisa, fé e esperança em Nossa Senhora. ”
Conceição Augusta Silva – Rainha
Matéria e Entrevistas - Waldecy Júnior
Fotos - Thailyne Eduarda