Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo: pelo amor através da dor
Como se sabe, não há celebração da Santa Missa na sexta-feira da paixão
de Cristo. Neste dia é de grande proveito as tradições que buscam promover reflexões sobre a morte e crucificação de Nosso Senhor. Dentro desse propósito, teve início
ontem (03), a partir das 20h, o Sermão do Descendimento da Cruz com a procissão
de Enterro do Senhor Morto logo a seguir. Uma multidão muito significativa de
fiéis se reuniu em frente ao Santuário Nossa Senhora de Nazaré para ouvir
atenciosamente as sábias palavras do reverendíssimo Pe. Claudir Possa Trindade.
A princípio, o ilustre sacerdote ressaltou a importância de guardar este
célebre dia como um misto de dor, resignação e esperança. Nesse sentido, a
Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo vem atribuir um significado mais
profundo e duradouro para toda trama da qual se constitui a nossa existência.
Jesus foi, em gesto de puro Amor, enviado pelo Pai para estar entre o homens,
conviver com a crueldade das suas leis e morrer pela mesma humanidade pecadora
que decretou a sua morte. Sublime prova de amor que Jesus nos dá como exemplo
para assim sermos com os nossos irmãos.
Com base nesse amor Ágape,
incondicionalmente fraterno e desinteressado, aprendemos com Cristo que a vida
somente ganha fundamento e abre caminhos quando nos apropriamos de nossa cruz
diária e se preciso for, morremos um pouco e cada dia mais pelo nosso irmão,
amigo ou desconhecido que carece urgentemente de um pouco mais de vida, do
sopro ungido que emana dos céus.
Dessa forma, os conceitos de vida e de morte deixam de ser pensados a
partir de uma perspectiva meramente biológica, isto é, ultrapassam os limites
do corpo para desnudar vidas e mortes muito mais sérias e fundamentais. Como o
sangue da Salvação que Cristo derramou na cruz para nos dar a Vida que está nos
céus, também nós cristãos somos chamados a morrer um pouco mais para que a
existência de nosso irmão tenha mais vida. Dentre todas, uma verdade se
sobressai como a mais importante para representar a Crucificação e Redenção da
humanidade pelo Senhor: sem Cristo, apenas existimos.
Além dessas explanações, Pe. Claudir também orientou o Povo de Deus para
se atentar aos sinais de sofrimento e crucificação que o mundo nos imprime a
exemplo do que ocorreu com Jesus. Longe de possuirmos mãos e pés chagados e
pregados à cruz, o mundo nos submete às sensações de prazeres imediatos e
profanadores, à quebra dos princípios morais e a uma série de questões sociais
muito problemáticas como a violência e a não-aceitação das diferenças alheias,
o narcotráfico, os homicídios e a impunidade.
A partir disso, é imprescindível compreender que todos esses obstáculos
ao Amor de Deus e à paz entre os homens carregam consigo a mesma raiz do mal
que nos afasta dos propósitos sagrados e da vida celeste que justifica todos os
percalços encontrados na caminhada do cristão.
Ao trazer à luz dos dias atuais a profecia e o projeto de Amor
implementado por Jesus, o reverendíssimo Padre demonstra como a nossa vida foi
moldada por Deus para seguir os planos do Alto, muitas vezes esquecidos em
função dos holofotes e descompassos desse mundo caótico e desgovernado. Com o
descendimento da Cruz, seguiu-se a procissão de Enterro do Senhor, abrilhantada
pela devoção e recolhimento interior de nossos irmãos nazarenenses, os quais
seguiram em oração. Todos acompanharam dolorosos o Senhor pelo Calvário e
esperançosos com o momento de Assunção e vitória de Jesus contra as amarras da
morte e do pecado.
No encerramento da celebração em luto da Paixão e Morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo, os fiéis foram incentivados a permanecer com Jesus em sua
Ressurreição para não ficarem estagnados na dor e assim possam ser restaurados
com a Vida Nova contida no Sangue Derramado.
O filósofo alemão Friedrich
Nietzsche defende que o homem é um rio turvo e precisamos ser um mar para
receber esse rio turvo que somos nós. Pois bem, essa foi a grande impressão que
se teve desta Sexta-feira Santa: uma multidão de mares disposta a receber seus
rios, pois o Oceano de onde provêm esses mares já doou incondicionalmente as
suas águas.
Matéria - Guilherme Augusto
Fotos - Everton Modesto Géssica Heloísa
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