“Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo
13:1)
Amor, caridade e penitência: viemos para
servir.
Na Missa Solene desta Quinta-feira Santa, presidida pelo reverendíssimo
Pe. Rondineli Cristino em conjunto com os reverendíssimos sacerdotes Padre Nelber
Rodrigues, SCJ, e Padre Pedro Paulo, SCJ, ilustrou satisfatoriamente o início
da caminhada dolorosa de Jesus ao calvário e principalmente a sua figura
exemplar de amor e humildade para com os discípulos do seu tempo e também para
os cristãos de hoje, herdeiros da sua Palavra.
Como parte da milenar tradição católico-cristã, a celebração ocorrida
ontem (2) no Santuário Nossa Senhora de Nazaré, às 19h, constitui a Santa Missa
do Lava-pés e busca recriar o episódio da última ceia entre Jesus e os 12
apóstolos.
Conforme o que nos relata o Evangelho de João, Jesus tirou o manto
que o cobria e amarrou à sua cintura uma toalha, com a qual lavou os pés de
seus discípulos para que estivessem espiritualmente limpos no momento de seu
retorno para o Reino dos Céus.
Neste momento de meditação e acolhimento das palavras do Santo Evangelho,
Pe. Nelber desceu do altar como sinal de humildade e se aproximou de onde se
encontrava reunido o Povo de Deus. Definitivamente, desenhava-se aos olhos de
todos uma bela e sagrada imagem com os três sacerdotes em oração com os
acólitos, os ministros e os fiéis que se dispuseram a representar os 12
apóstolos.
Tínhamos ali uma reprodução visual que nos permitia sentir a
comunhão feita entre o rebanho e o seu Bom Pastor. E dentro desse propósito de
fé, Pe. Nelber instaurou sua homilia com o tema do amor, sentimento cuja prova viva
é o próprio Cristo e que hoje se encontra tão banalizado em função da inversão
de valores morais e do culto desmedido que se faz do corpo e da aparência. Em
palavras que ecoavam dentro de todos os nossos irmãos presentes, o
reverendíssimo sacerdote destacou a importância de viver para Deus e servi-lo
sem reservas. Romantismo, romance e prazeres carnais são elementos de primeira
ordem no mundo contemporâneo, mas não sustentam como o Amor que Cristo
vivenciou na dor para nos salvar.
Profundamente tocado pelo Espírito Santo, o
sacerdote ainda ressaltou que cada membro da Igreja, enquanto instituição
religiosa e templo do Senhor, deve acima de tudo compreender que não é superior
ou especial por cumprir mais de perto os planos de Deus. Desde os irmãos
presentes na Santa Missa, incluindo os ministros e acólitos e até mesmo o
presidente da celebração; todos devem ser, em suas respectivas funções, servos
capazes de prostrar-se diante do próximo e estabelecer com ele vínculos de
igualdade e fraternidade concretizados no serviço e nas boas obras.
“Simplesmente amar”, foram estas as últimas palavras proclamadas pelo
reverendíssimo Padre antes de subir novamente ao altar.
Logo após a reflexão sobre o amor e a recordação da Paixão de Cristo por
seu gesto de humildade, o ilustre e reverendíssimo Padre de nossa paróquia,
Rondineli Cristino, seguiu o exemplo dado por Jesus e despiu as alfaias e
vestimentas que o singularizavam diante do povo para substituí-las por um
avental e lavar os pés dos 12 apóstolos distribuídos entre um canto e outro do
altar.
A cena que se configurou foi brilhantemente construída como um
espetáculo de caridade, a plenitude consumada do amor sem limites e que
transcende o próprio ser que ama. Ser humano esse que sendo sacerdote, o Bom
Pastor dos nazarenenses, não hesitou em abster-se de todos os símbolos que o
tornavam uma autoridade religiosa para simplesmente tomar os pés dos seus
irmãos e lavá-los, secá-los, limpá-los da sujeira cotidiana como devemos limpar
os nossos familiares e amigos e também nós sermos limpos por eles.
Por assim
dizer, somos cada vez mais chamados a lavar-nos uns aos outros nas águas do
Senhor. Como cristãos verdadeiramente amados e amantes de Jesus, é fundamental
que saibamos conceber a nossa espiritualidade como um espaço que precisa ocupar
a vida espiritual do outro, ou seja, precisamos nos igualar ao outro para
inundá-lo com a nossa Fé e sermos também transbordados do Amor que o próximo
nos retribuir e oferecer. Eis aí o singelo e perseverante caminho da caridade.
Estejamos sempre dispostos a servir e limpar pés machucados e incapazes de
prosseguir; os nossos irmãos necessitam do nosso testemunho de caridade para
que possam também ser caridosos, desse modo seguiremos todos descalços e puros,
serenos e tranquilos pelo caminho de Deus.
Neste dia tão importante dentro da
Semana Santa, é importante ressaltar o advento da Eucaristia, o maior e mais
simbólico sacramento da Igreja. Um dia antes de ser entregue por Judas e levado
ao monte em que seria crucificado, Jesus partilhou entre os discípulos o pão e
o vinho, ensinando-lhes que se tratava de seu corpo e de seu sangue.
Através
desses alimentos para a alma, eles nunca passariam fome nem sede e deveriam
repetir e transmitir esse ritual de comunhão aos povos e nações como forma de
evangelizá-los e levá-los à presença do Cristo Ressuscitado.
Assim o fizeram
seus discípulos e ontem a comunhão trouxe à memória o Pão da Vida e o Sangue da
Salvação com os quais Jesus perpetuou sua Palavra no meio e essencialmente
dentro de nós.
Tradicionalmente, a celebração foi
encerrada sem a bênção final que só será dada no Sábado Santo com o início de
um novo ciclo na vida do cristão e da Igreja em que Jesus Cristo já se encontra
à direita do Pai e permanece em nós pelo sacramento da Eucaristia.
A tempestade agora anuncia a sua vinda, mas a certeza da calmaria e a Fé na Salvação é o que nos mantém confiantes para lutar; pacíficos, ajoelhados, em penitência e oração; como Cristo nos ensinou e como deve ser toda revolução legítima da vida contra o pecado e a morte.
Matéria : Guilherme Augusto
Fotos : Cássia Pereira
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